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POXI...POXIRA



 

 POXI...AMADA PARA SEMPRE... 

Quando alguém muito amado deixa a vida
ficamos arrasados e sofremos muito
porque um pedaço muito grande do nosso coração 
vai junto de quem partiu.
Chamamos isso de luto, 
um período de purgação antecipada
da miserável certeza
de que temos que seguir em frente,
e da inexplicável culpa por saber
que um dia passaremos muito bem sem eles...
Nenhum remédio cura essa dor insuportável,
especiamente porque acreditamos
que nunca teremos sido dignos o bastante
de zelar pelo bem estar, e proteger a fragilidade
daqueles que nos foram confiados...
Durante este período nos proibimos de ser felizes...
Isso dói demais... mas um dia passa...

Paulo Moraes 28/03/2015

 

PEQUENINA

Bebemos o último gole de crepúsculo,
Antes de adentrarmos à Penumbra envolvente e sorrateira da Noite,
Que veio morder-nos as espáduas com seus dentes macios.
Escondemo-nos na aragem fresca e marítima do Sal,
E cobrimo-nos com as palavras que falam sozinhas.
É aqui o lugar em que nada mais cabe, e nada transborda;
Irrepreensível fronteira, intraduzível ponto,
Onde tudo se completa e se desfaz.
Logo adiante, paragens de outras naturezas,
Devoram a insignificância.
Não tenho aptidão para janeiros,
Mas sei que meu ataque é frontal.
Minhas manobras também servem
Para esquartejar o limão para o zeviche.
Tenho uma revolução dentro de mim,
Cuja voz é rouca,
Como costumam ser todas as rebeldias derretidas.
Algo desvalido descreve os impelidos
Marginalizados diários de vida irracional.
Então as fortalezas caem sob o impacto
Do golpe de misericórdia que atinge os alicerces:
Súbito, era apenas uma criança desamparada.
E quando caíste nos meus braços, pequenina,
Acho que foi amor à perder de vista;
E te perdi à sangue frio, e só o ar,
Somente o ar, ficou cheio de manuscritos,
Daquele universo incandescente,
Que se descontinuou abruptamente...

Paulo Moraes 05/04/2014

 

PORTA PARA O INFINITO
A invencível e inelutável ausência é um varal 
De pedaços cruéis de incertezas.
Dúvidas rabiscadas em papel derradeiro
Para embrulhar o desejo ardente
De sopro aveludado de música ao ouvido.
O cimento dos olhos prontamente ignorou
As cláusulas pétreas da areia e do cascalho.
Então uma sensação de deserto escuro aloja-se 
Num canto de nebulosidade proibida da mente.
É lugar próprio para a guarda da compaixão
Com prendedores da sinceridade sombria. 
Coisas pueris colecionadas na infância, 
Em álbum de capa de caramujos de flanela.
A persistência comprimida em cápsulas de memórias
Contadas, recontadas e recriadas,
Afunda como barco à deriva.
Começa a adernar sob o peso imprescritível 
Da carga do vazio complementar,
De um fardo pesado como chumbo molhado, 
Depois dos rigores de uma prolongada tempestade.
Os ventos catam o desânimo e a desolação 
Esclarecedoras e explicativas deste e doutros mundos.
Permite-se que o impacto no propósito do seu sucesso,
Seja exorcizando a ignorância e o medo. 
Aceita-se isso como a contrapartida restauradora
De uma herança atávica poderosa e renitente,
Que sabe aumentar-nos até as esferas perpétuas, 
E atirar-nos no ilimitado e extenso Nada.

Paulo Moraes 29/03/2015

 

(EUGENIO MONTALE)

OSSOS DE SIBA 

Não busques abrigo na sombra 
desse bosque de verdura 
qual o falcão que mergulha 
como um raio na canícula. 

É hora de deixar quieto
o caniçal sonolento
e de observar as formas
da vida que se esboroa 

Caminhamos numa poeira 
de madrepérola vibrante, 
num ofuscamento pegajoso 
que quase nos desfibra. 

No entanto, tu o sentes, mesmo na onda árida 
que lassidão nos traz neste instante de enfado 
não é hora ainda de lançar num abismo 
nossas vidas errantes. 

Como este claustro de rochas 
que parece desfiar-se 
em teias de nuvens; 
assim nossas almas ressequidas 

onde a ilusão mantém aceso 
um fogo mais de cinzas 
se entregam à serenidade 
de uma certeza: da luz. 

Repenso o teu sorriso e é para mim como uma água límpida 
retida por acaso entre as pedras de um rio, 
exíguo espelho onde contemplas uma hera e seus corimbos; 
e tudo sob o abraço de um branco céu tranqüilo. 

Esta é a minha lembrança; não sei dizer, faz tanto tempo, 
se de teu rosto surge livre uma alma ingênua, 
ou se em verdade és dos errantes que o mal do mundo exaure 
e o sofrimento carregam como um talismã. 

Mas posso dizer-te isto, que teu rosto recordado 
afoga a mágoa inconstante numa onda de calma, 
e que tua figura se insinua em minha memória nevoenta 
imaculada como a copa de uma jovem palmeira... 

(tradução: Geraldo H. Cavalcanti) 

A casada infiel

Federico Garcia Lorca


(A Lydia Cabrera
e à sua negrinha)


E eu que fui levá-la ao rio
Certo de que era donzela,
Mas bem que tinha marido.
Foi a noite de São Tiago
E quase por compromisso.
As lâmpadas se apagaram
E se acenderam os grilos.
Já nas últimas esquinas
Toquei seus peitos dormidos,
Que de pronto se me abriram
Como ramos de jacinto.
A goma de sua anágua
Vinha ranger-me no ouvido
Como seda que dez facas
Rasgassem em pedacinhos.
Sem luz de prata nas copas
As árvores têm crescido
E um horizonte de cães
Ladra bem longe do rio

Após franqueadas as brenhas,
Franqueados juncos e espinhos,
Por baixo de seus cabelos
Fiz um ninho sobre o limo.
Eu tirei minha gravata.
Ela tirou seu vestido.
Eu, cinturão e revolver.
Ela, seus quatro corpinhos.

Nem nardos nem caracóis
Têm cútis com tanto viço,
Nem os cristais sob a lua
Alumbram com igual brilho.
Sua coxas me escapavam
Como peixes surpreendidos,
Metade cheias de lume,
Metade cheias de frio.
Galopei naquela noite
Pelo melhor dos caminhos,
Montado em potra nácar
Sem rédeas e sem estribos.
As coisas que ela me disse,
Por ser homem não repito
Faz a luz do entendimento
Que eu seja assim comedido.
Suja de beijos e areia,
Eu levei-a então do rio.
Contra o vento se batiam
As baionetas dos lírios

Portei-me como quem sou.
Como gitano legítimo.
Dei-lhe cesta de costura,
Grande, de cetim palhiço,
E não quis enamorar-me,
Pois ela, tendo marido,
Me disse que era donzela
Quando eu a levava ao rio.

                

 

As seis cordas

Federico Garcia Lorca

A guitarra
faz soluçar os sonhos.
O soluço das almas
perdidas
foge por sua boca
redonda.
E, assim como a tarântula,
tece uma grande estrela
para caçar suspiros
que bóiam no seu negro
abismo de madeira.

 

 

DEPRESSÃO   (Abel González Fagundo) 

Cegó los ojos de ellos, y endureció su corazón… Jn 12:40
ABEL G FACUNDO 
Era o instante para a salvação  de meus outonos,
e como qualquer homem a fé me faltou,
em ausência  do vento destinado,
da temeridade com que a árvore se mantém.

Me preveni da beleza,
e suas melancolias passageiras,
me preveni da lembrança pelos muros,
das dobras do naufrágio;
mas fiquei sem mãos na fuga,
na traição do ar,
e este roçar de trópico insular.

Parti, fiel à insônia,
à cegueira inevitável do poeta
e a inutilidade de minha esperança,
meu talismã foi um coração de cão,
alma dócil envenenada por sua lealdade.

Era o instante para a salvação de meus outonos,
pressenti a cegueira, o arame invisível que assassinou meus olhos,
o lodo que em meu coração endurecia.
Como última lembrança a águia
disposta a alimentar-se com minhas carnes,
a mariposa, e seu parto de lagartas em minha língua.


O GIRASSOL SEM PÉTALAS   (Abel González Fagundo) 

            Un hombre que cultiva su jardín,
                       como quería Voltaire.
                                   J. L.Borges

Vou semear jardins em meu quarto,
sei que ambos tememos a morte.

Ele aprendeu a encher minhas camisas com sua sombra,
a cobrir minhas porções com seus lamentos
de bailarino estreito.

Às vezes quando não existe o mundo,
nós dois vamos desnudos a matar a manhã.
Os versos que brotam dele aliviam nosso medo,
e em farrapos eu rompo uma face
quando nas horas bárbaras a luz já não é a luz.

Vou semear jardins em meu quarto,
neste cravo que sangra por sua pele,
hei de pendurar o óleo onde um pintor qualquer
quis traçar girassóis para Vincent.

Jovem poeta cubano nascido em 1973 mas já premiado em vários concursos literários nacionais


(Françoise Hardy)
A questão

Eu não sei quem você pode ser
Eu não sei o que você espera
Eu procuro sempre conhecê-lo
E o teu silêncio perturba o meu silêncio

Eu não sei de onde vem a mentira
Será da sua voz que se cala?
Os mundos onde mergulho contra a minha vontade
São como um túnel que me assusta

Da tua distância até a minha
Nos perdemos frequentemente
E procurar compreendê-lo
É como correr atrás do vento

Eu não sei porque continuo
Dentro de um mar onde me afogo
Eu não sei porque continuo
Nesse ar que me asfixia

Você é o sangue da minha ferida
Você é o fogo que me queima
Você é minha pergunta sem resposta
Meu grito mudo e o meu silêncio

Link: http://www.vagalume.com.br/francoise-hardy/la-question-traducao.html#ixzz3Otzhm0LZ

 

De
Federico García Lorca
O Passeio de Buster Keaton e outros textos.
Trad. de Aníbal Fernandes.
Lisboa: Série K, 1984. 48 p


PAISAGEM DA MULTIDÃO QUE URINA
(NOCTURNO DE BATTERY PLACE)

Poema de Federico García Lorca
Tradução de Anibal Fernandes

Eles ficaram sós:
esperavam a velocidade das últimas bicicletas.
Elas ficaram sós:
aguardavam a morte de uma criança no veleiro japonês.
Eles, elas, ficaram sós,
a sonhar com os bicos que os pássaros abrem na agonia,
com o guarda-sol agudo que fura
o sapo esmagado ainda há pouco,
sob um silêncio de mil orelhas,
e bocas de água diminutas
nos desfiladeiros que resistem
ao feroz ataque da lua.
Chorava, a criança do veleiro, e os corações partiram-se
angustiados pelo testemunho e a vigília de todas as coisas
e porque assim mesmo nomes escuros gritavam
no chão celeste de negras pegadas,
gritavam salivas e rádios de níquel.
Não importa se a criança deixa de chorar
quando lhe espetam o último alfinete,
nem a derrota da brisa na corola do algodão,
pois há um mundo da morte com definitivos marinheiros
que hâo-de subir aos arcos e congelá-los por detrás das árvores.
É inútil procurar o cotovelo
onde a noite se esquece da viagem
e espreitar um silêncio que não tenha
fatos rotos e cascas e pranto,
pois basta o banquete da aranha, minúsculo,
para desfazer o equilíbrio de todo o céu.
Para o gemido do veleiro Japonês não há remédio,
nem para esta gente oculta que tropeça nas esquinas.
Para unir as raízes num só ponto o campo morde o seu próprio rabo
e o novelo vai procurar na erva a sua ânsia insatisfeita de longitude.
A lua! Os policiais! As sereias dos transatlânticos!
Semblante de crina, de fumo; anémonas e luvas de borracha.
Tudo está roto nesta noite
aberta de pernas em cima dos terraços.
Tudo está roto por esses canos mornos
de uma terrível e silenciosa fonte.
Ó gente! Ó mulherzinhas! ó soldados!
Temos de viajar nos olhos dos idiotas,
campos livres onde silvam mansas cobras deslumbradas,
paisagens cheias de sepulcros que produzem maçãs fresquíssimas,
para nos chegar a exorbitante luz
que os ricos temem por detrás das suas lupas,
o cheiro de um só corpo com vertente dupla de lírio e rata,
e queimar-se então esta gente que pode urinar à volta de um gemido
ou nos cristais que explicam as ondas nunca repetidas.